domingo, 26 de abril de 2009

Educação com Emoções




Educação com emoções


Esta reflexão que aqui apresento é consequência de alguma das aprendizagens adquiridas na disciplina, bem como da curiosidade que me foi despertada para esta matéria e que têm sido muito importantes para a melhoria da minha actividade profissional. Assim, e porque a actividade de um professor não se resume às suas competências técnico-profissionais especificas, mas também às relações interpessoais e intrapessoais, decidi abordar a temática da inteligência emocional em contexto de aprendizagem.

Nos anos 80, Howard Gardner e a sua equipa da Universidade de Harvard propuseram que o ser humano não tinha uma ou duas inteligências (já avançadas por Alfred Binet, com a inteligência lógico-matemática e a inteligência linguística ou verbal, bem como a medição da inteligência, o QI), mas sim várias inteligências. Gardner com a teoria das inteligências múltiplas sublinha a importância da inteligência intrapessoal no auto conhecimento e da inteligência interpessoal no estabelecimento de boas relações com os outros. O conceito de educação emocional surgiu na década de noventa, e foi difundido pelas obras de Daniel Goleman destacando aqui o livro “Emotional Intelligence – Why It Matters More Than IQ” (1995) (com base no conceito de inteligência emocional, introduzido por Peter Salovey e John D. Mayer, 1990).

Ora, o educador de hoje é confrontado com esta nova realidade, e podendo verificar a diferença que existe entre um ensino cartesiano, cientifico-matemático, (tal como ao que eu fui sujeito) cuja primazia é a razão, ignorando as emoções como parte integrante do ser humano, a educação emocional visa o aluno como um ser integral, propondo uma diversificação do ensino. Jacques Delors (1996) ao defender os quatro pilares da educação (aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver em comum e aprender a ser) sendo os dois últimos potenciadores da educação emocional, denuncia já a necessidade do ensino tomar novos rumos. Mas, para se assumir uma educação emocional, o professor tem que se predispor criar novas aprendizagens (se é que ainda não as tem), devendo trabalhar sobre si mesmo. Tornar-se um bom ouvinte é uma das condições para criar empatia com o outro. Reconhecendo o valor da hospitalidade o educador deve ir ao encontro do outro com a finalidade de superar os preconceitos, sabendo escutar e acolher, pois o aluno é a condição de todo ensino.

As emoções têm efeitos sobre os processos mentais, e podem afectar a percepção, a atenção, memória, razão, criatividade, etc. Geralmente, as pessoas que funcionam bem emocionalmente, realizam avaliações adequadas dos acontecimentos e gerem as emoções de forma a minimizarem os efeitos negativos e a maximizarem os positivos em cada situação. Daí ser imprescindível aprender a gerir as emoções para regular o comportamento e a impulsividade nas suas relações pessoais, sociais e até profissionais. No processo da educação emocional o professor tem o dever de “oferecer” elogios sinceros e oportunos, visando o estabelecimento de ligações afectivas e partilhar simpatia com os alunos.

O facto da educação emocional ter estado arredada da escola fez de muitos de nós (professores) analfabetos emocionais e para isso temos que nos (re)educar, trabalhando a nossa inteligência emocional para sermos capazes de decidir equilibradamente, evitando o sofrimento próprio e o alheio. Sendo possível educar as emoções, (categoria das emoções secundárias) significa que é possível ao ser humano no percurso de vida, desenvolver competências emocionais. Entende-se assim a educação emocional como um processo educativo, continuo e permanente, que tem como objectivo potenciar o desenvolvimento de competências emocionais como elemento essencial do desenvolvimento integral da pessoa, capacitando-a para a vida. Tudo isto tem como finalidade última aumentar o bem-estar pessoal e social. Educarmos as nossas crianças para os valores e afectos, alfabetizando emocionalmente, estaremos a contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e equilibrada.


Bibliografia:
Escada, Angela – Faça a Diferença. 2.ª ed. Raridade Editora, 2004

Noyes, Randi B. – A Arte da Liderança Pessoal. 2.ª ed. Actual Editora, 2006

Delors, Jacques – Educação um Tesouro a Descobrir. Edições ASA, 1996

Gonçalves, José Luís - Exigências Epistemológicas nas Dinâmicas de Grupo: empatia e descentração. Apresentação das aulas (PowerPoint), ESEPF, 2009

Estanqueiro, António - Saber Lidar com as Pessoas. 15.ª ed. Editorial Presença, 2008

Chabot, Daniel - Cultive a sua Inteligência Emocional. Editora Pregaminho, 2000

Porto, 20 de Abril de 2009
José Maria Calisto Gomes

Trabalho realizado para a disciplina de:
Técnicas e Dinâmicas na Condução de Grupos
Orientada pelos professores:
João Carlos de Gouveia Faria Lopes
José Luis Almeida Gonçalves

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