segunda-feira, 1 de junho de 2009

Liderar com Emoções na sala de aula

O Contributo das Emoções na Liderança da Sala de Aula

Reflectir sobre as matérias abordadas na disciplina de Técnicas e Dinâmicas de Grupo, levou-me à eliminação de algumas delas, para a elaboração deste trabalho, não por ser menos importantes, mas porque na minha pratica diária e da percepção que eu tenho delas, muito das minhas dificuldades reside na resolução de problemas interpessoais e não em questões técnicas especificas das disciplinas a ministrar, como por exemplo preparação das aulas, objectivos a atingir ou avaliar o trabalho realizado. Pela importância que algumas matérias despertaram na minha actividade e que tiveram um factor positivo na tomada de decisões em situações de conflito, decidi abordar as questões relacionadas com a liderança pessoal.

Segundo Lin Bothwell em “A Arte da Liderança”, grande parte dos bons líderes são pessoas com um desejo comum: aprender e aperfeiçoar-se, ou seja, é possível a qualquer pessoa crescer e melhorar a sua capacidade interagir com os outros . Sito ainda duas qualidades, que o mesmo autor considera como distinção dos verdadeiros líderes, a vontade de concretizar os seus sonhos e a capacidade de os concretizar na acção, inspirando os outros a agirem. Ora, para se ser um bom líder não basta conhecer as teorias da liderança, é necessário que o indivíduo se conheça a si mesmo.

O Professor enquanto líder na sala de aula deve ter consciência e capacidade de gerir as suas emoções, para que possa utiliza-las em seu beneficio e dos alunos. Para que isso aconteça, o Professor deve aprender a gerir a as suas emoções, reconhecer que a relação com os outros exige de si a gestão da sua liderança. Muitas vezes os debates sobre a liderança está centrado no comportamento dos outros, mas quando falamos do uso da Inteligência Emocional é necessário referir a liderança do “eu”, assim afirma Randi B. Noyes. Considera ainda que: “Os grandes líderes têm a capacidade não só de se relacionarem e de criarem empatia com as emoções de outros, mas também de reconhecerem e de gerirem as suas próprias emoções de uma forma intencional e construtiva.”

A inteligência interpessoal é aquela que nos habilita para o relacionamento com as outras pessoas e a inteligência intrapessoal aquela que nos permite o conhecimento de nós próprios, que Daniel Goleman inclui nas categorias da Inteligência Emocional. Mas a descoberta do nosso interior e na relação com os outros, não é exactamente uma tarefa fácil, pois nem todas as dimensões da nossa personalidade nos é revelada, tal como outras não conseguem mostrar-se aos outros. Dizia o filósofo grego Teles: “O mais difícil é conhecermo-nos a nós próprios”. Somos um mistério para cada um de nós e para os outros (cito). O professor ao aprofundar o auto conhecimento, terá maior capacidade de fortalecer a sua auto-estima e ganhar maior confiança nas suas capacidades de gestão e orientação da sala de aula. O crescimento pessoal tem também uma dose de sofrimento, pois tomarmos consciência das nossas “fragilidades” pessoais e analisarmos as nossas emoções e sentimentos, conduzindo-nos à mudança, altera-nos a percepção do quotidiano na relação com os outros. Mas este crescimento vai ajudar-nos nas tomadas de decisão, permitindo-nos ser activos e responsáveis tal como se pretende dum líder.

Muito se fala da importância de um professor, aquele que ensina, que educa, que forma, que instruí, que orienta e muito pouco aquele que ama. Quando o professor age com amor ouve e compreende o aluno de maneira diferente. Ao amor opõem-se a violência, o medo, a angustia e todas as energias negativas que muita das vezes, impede que o aluno seja um agente participativo e activo nas suas aprendizagens. O líder que ama dá e recebe com mais facilidade, elogia o aluno com honestidade criando efeitos positivos na relação professor / aluno permitindo um bom desempenho nas actividades lectivas, mas isso não significa que não intervenha nas falhas graves repreendendo com firmeza e serenidade. Deve fazê-lo oportunamente, com justiça, explicando ao aluno os motivos do seu erro, permitindo e dando atenção às explicações daquele que errou. O professor não deve cair na tentação de criticar e repreender com frequência, pois provoca um desgaste emocional nas relações com os seus subordinados. Os alunos estão numa caminhada para a sua formação pessoal e se forem submetido com frequência à repreensão, vai criar uma sensação de medo em assumir responsabilidades, produzindo desânimo e minimizando a auto-confiança de que tanto precisa.

O professor enquanto comunicador tem a obrigação de escutar, pois a comunicação faz-se nos dois sentidos. Essa escuta deve ser activa e consciente, analisando as palavras do aluno, sem formular juízos de valor. Esta capacidade de escuta activa, nem sempre está acessível ao professor, ele tem que ganhar consciência e conhecimento para poder trabalhar esta competência na sua actividade diária, em favor da educação e dos alunos. Nesta educação comunicacional devemos ter consciência dos nossos sentimentos e emoções para podermos exprimir as nossas palavras com inteligência, sentindo que o aluno nos compreendeu, e agir empaticamente com ele, para que seja possível o reverso do lado do aluno, solicitando desta forma a capacidade empática do mesmo. Criar e desenvolver competências comunicacionais é o que todos desejamos, ou seja, o de sermos compreendidos. Se o professor for capaz de gerar este efeito, está a criar um ambiente de bem estar na sala de aula, permitindo um espaço de confiança para a aprendizagem e um ambiente amigável para o exercício da sua liderança.

Porto, Maio de 2009
José Maria Calisto Gomes



Bibliografia:
Bothwell, Lin – A Arte da Liderança. Editorial Presença, 1991

Noyes, Randi B. – A Arte da Liderança Pessoal. 2.ª ed. Actual Editora, 2006

Ibaixe, Carmensita S. B.; Solanowski, Marly; e – Preparando Aulas. Madras Editora, São Paulo 2006

Estanqueiro, António - Saber Lidar com as Pessoas. 15.ª ed. Editorial Presença, 2008

Pérez, Juan F. Bou – Coaching para Docentes. Porto Editora, 2009


Trabalho realizado para a disciplina de:
Técnicas e Dinâmicas na Condução de Grupos

Orientada pelos professores:
João Carlos de Gouveia Faria Lopes
José Luis Almeida Gonçalves

Escola Superior de Educação Paula Frassinetti

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Aprender a Pedagogia do Amor

Porque podemos sempre evoluir na construção da nossa personalidade e com isso ajudar os jovens a construir um futuro melhor, vale a pena ler o artigo que se segue, da autoria de Nelly Beatriz M. P. Penteado. Ame-se a si mesmo e mais facilmente amará o outro, ajudado-o a crescer também.

"A PEDAGOGIA DO AMOR"

(...)

Há muitas pessoas que optaram pelo caminho da marginalidade porque não conseguiram construir aquele “eu” que agradaria às pessoas. Talvez ninguém as odeie mais do que elas mesmas. Foi em virtude de muitos DEVERIAS, aos quais elas não conseguiram corresponder, que elas chegaram aonde estão. Elas se sentem tão em débito com esses deverias que é como se imaginassem uma dívida que jamais conseguirão saldar, pois a cada dia ela aumenta - a cada dia elas acrescentam algo que deveriam/não deveriam ter feito.

Uma outra maneira de educar as crianças é através do que chamarei de Pedagogia do Amor. E do amor incondicional. Aquele que não espera que o outro mude para começar a amá-lo. Aquele que não diz que a criança deveria ser diferente, mas que valoriza todos os seus sentimentos, comportamentos, iniciativas. Aquele amor que não tem a intenção de ter nenhum tipo de controle sobre a criança, que não quer manipular suas reacções e comportamentos e moldá-los de acordo com um padrão, ou de acordo com um objectivo que não foi traçado por ela.

Aquele amor que permite que ela simplesmente SEJA ELA MESMA. Que “deixa o rio correr”, sem apressá-lo. Que acompanha o fluir livre e leve da criança. Que jamais diz que ela não deveria sentir raiva de alguém, mas que procura compreender seus sentimentos e ensiná-la que quando não se luta contra os mesmos, eles passam por nós bem mais depressa.

Deixar o rio correr… Sempre…
Ensiná-la a reconhecer que todo comportamento tem uma intenção positiva. Se ela aprender a reconhecer isto em si mesma, terá muito mais facilidade em reconhecê-lo nos outros. Se ela aprender a ser compreensiva e paciente consigo mesma, também o será com as demais pessoas.

Se ela está sentindo inveja de alguém, ajudá-la a reconhecer que provavelmente ela tem dentro de si uma parte (um “lado”) que acredita que ela também merece ser como aquela pessoa, ou ter o que ela tem, e que não há nada de errado nisso. Se ela está com raiva de alguém que brigou com ela, talvez seja porque possui uma parte que acha que ela merecia ser tratada de uma maneira melhor. E assim por diante. Não é difícil saber a intenção positiva de nossas partes internas e aprender a valorizá-las.

Ajudá-la a confiar em seus sentimentos, sensações, intuições, em seu julgamento interno, em sua voz interior, na “voz do seu coração”. Ao invés de ficar lhe dizendo o que deveria fazer, perguntar-lhe : “O que você acha disso?” “O que você sente em relação a isso?” Ajudá-la a formar seus próprios valores incentivando a reflexão, fazendo-lhe perguntas que ajudem-na a confiar em sua sabedoria interna. Esta é a maior herança que os pais podem deixar aos filhos, já que pais não são eternos.
Mas talvez você, leitor, esteja dizendo: “Ótimo, entendi o que você disse em relação às crianças. Mas o que eu faço comigo? Com os meus DEVERIAS?”

(...)

Geralmente, por mais severos que tenham sido nossos pais, a tendência é que sejamos mais severos connosco do que eles o foram, e um pouco mais compreensivos e benevolentes em relação aos filhos.

Por este motivo, sugiro que você faça com você o que faria com a criança que citei acima. Raleie o texto e empregue as sugestões consigo mesmo. Imagine que dentro de você há uma criança e que você terá de cuidar dela pelo resto de sua vida. Você escolhe: ou você vai ser um repressor que controla, critica, diz DEVERIA a toda hora, ou você vai procurar fazê-la feliz, diverti-la, amá-la.

Só conseguimos amar, entender, aceitar as outras pessoas quando somos capazes de fazer tudo isso connosco. Quem não consegue aceitar o comportamento de alguém, quem não consegue gostar de alguém, certamente descobrirá que não consegue aceitar a si mesmo, talvez até não aceite em si aquele mesmo comportamento que não aceita no outro.
É um fato que você poderá constatar: quando paramos de lutar CONTRA nós, contra nossos sentimentos, desejos, quando passamos a ser A FAVOR de nós mesmos, o mundo responde da mesma maneira. A sua vida é o reflexo daquilo que acontece dentro de você. Se você não gosta de si mesmo, se você não se aprova, não se trata com carinho e respeito, não espere que os outros o façam. É o que se chama de AUTO-ESTIMA.
Para isso, você poderá começar a aprender a substituir o DEVERIA pelo EU PREFIRO, EU ESCOLHO, EU APRECIO, EU ME PERMITO.

(*) Nelly Beatriz M. P. Penteado é Psicóloga e Master Practitioner em Programação Neurolingüística (PNL).

Extraído de: http://site.suamente.com.br/pedagogia-do-amor/

domingo, 26 de abril de 2009

Educação com Emoções




Educação com emoções


Esta reflexão que aqui apresento é consequência de alguma das aprendizagens adquiridas na disciplina, bem como da curiosidade que me foi despertada para esta matéria e que têm sido muito importantes para a melhoria da minha actividade profissional. Assim, e porque a actividade de um professor não se resume às suas competências técnico-profissionais especificas, mas também às relações interpessoais e intrapessoais, decidi abordar a temática da inteligência emocional em contexto de aprendizagem.

Nos anos 80, Howard Gardner e a sua equipa da Universidade de Harvard propuseram que o ser humano não tinha uma ou duas inteligências (já avançadas por Alfred Binet, com a inteligência lógico-matemática e a inteligência linguística ou verbal, bem como a medição da inteligência, o QI), mas sim várias inteligências. Gardner com a teoria das inteligências múltiplas sublinha a importância da inteligência intrapessoal no auto conhecimento e da inteligência interpessoal no estabelecimento de boas relações com os outros. O conceito de educação emocional surgiu na década de noventa, e foi difundido pelas obras de Daniel Goleman destacando aqui o livro “Emotional Intelligence – Why It Matters More Than IQ” (1995) (com base no conceito de inteligência emocional, introduzido por Peter Salovey e John D. Mayer, 1990).

Ora, o educador de hoje é confrontado com esta nova realidade, e podendo verificar a diferença que existe entre um ensino cartesiano, cientifico-matemático, (tal como ao que eu fui sujeito) cuja primazia é a razão, ignorando as emoções como parte integrante do ser humano, a educação emocional visa o aluno como um ser integral, propondo uma diversificação do ensino. Jacques Delors (1996) ao defender os quatro pilares da educação (aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver em comum e aprender a ser) sendo os dois últimos potenciadores da educação emocional, denuncia já a necessidade do ensino tomar novos rumos. Mas, para se assumir uma educação emocional, o professor tem que se predispor criar novas aprendizagens (se é que ainda não as tem), devendo trabalhar sobre si mesmo. Tornar-se um bom ouvinte é uma das condições para criar empatia com o outro. Reconhecendo o valor da hospitalidade o educador deve ir ao encontro do outro com a finalidade de superar os preconceitos, sabendo escutar e acolher, pois o aluno é a condição de todo ensino.

As emoções têm efeitos sobre os processos mentais, e podem afectar a percepção, a atenção, memória, razão, criatividade, etc. Geralmente, as pessoas que funcionam bem emocionalmente, realizam avaliações adequadas dos acontecimentos e gerem as emoções de forma a minimizarem os efeitos negativos e a maximizarem os positivos em cada situação. Daí ser imprescindível aprender a gerir as emoções para regular o comportamento e a impulsividade nas suas relações pessoais, sociais e até profissionais. No processo da educação emocional o professor tem o dever de “oferecer” elogios sinceros e oportunos, visando o estabelecimento de ligações afectivas e partilhar simpatia com os alunos.

O facto da educação emocional ter estado arredada da escola fez de muitos de nós (professores) analfabetos emocionais e para isso temos que nos (re)educar, trabalhando a nossa inteligência emocional para sermos capazes de decidir equilibradamente, evitando o sofrimento próprio e o alheio. Sendo possível educar as emoções, (categoria das emoções secundárias) significa que é possível ao ser humano no percurso de vida, desenvolver competências emocionais. Entende-se assim a educação emocional como um processo educativo, continuo e permanente, que tem como objectivo potenciar o desenvolvimento de competências emocionais como elemento essencial do desenvolvimento integral da pessoa, capacitando-a para a vida. Tudo isto tem como finalidade última aumentar o bem-estar pessoal e social. Educarmos as nossas crianças para os valores e afectos, alfabetizando emocionalmente, estaremos a contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e equilibrada.


Bibliografia:
Escada, Angela – Faça a Diferença. 2.ª ed. Raridade Editora, 2004

Noyes, Randi B. – A Arte da Liderança Pessoal. 2.ª ed. Actual Editora, 2006

Delors, Jacques – Educação um Tesouro a Descobrir. Edições ASA, 1996

Gonçalves, José Luís - Exigências Epistemológicas nas Dinâmicas de Grupo: empatia e descentração. Apresentação das aulas (PowerPoint), ESEPF, 2009

Estanqueiro, António - Saber Lidar com as Pessoas. 15.ª ed. Editorial Presença, 2008

Chabot, Daniel - Cultive a sua Inteligência Emocional. Editora Pregaminho, 2000

Porto, 20 de Abril de 2009
José Maria Calisto Gomes

Trabalho realizado para a disciplina de:
Técnicas e Dinâmicas na Condução de Grupos
Orientada pelos professores:
João Carlos de Gouveia Faria Lopes
José Luis Almeida Gonçalves